sexta-feira, março 31, 2006

4º Chamamento - Portal da Felicidade

Há quanto séculos caminho nesta vereda da justiça, cujo fim ainda não se divisa? O único objectivo a atingir seria, então, pôr à prova a minha resistência às provações?
Não, não pode ser isso, pois outrora, num tempo já muito distante, vislumbrei o cume da iluminação.
Mas durante quantas encarnações terei ainda que vaguear na mágoa e tribulações até atingir o portal da Felicidade? Sem queixume e sem curiosidade, sou forçado a continuar durante mais um século a escalar a Vereda. Estou cansado, o meu coração sangra por causa de toda a miséria, todos os sofrimentos que suportei.
As esperanças vãs e as promessas falaciosas sustiveram-me, embora o eterno tivesse sido o objecto de todos os meus desejos; as minhas apalpadelas cegas para encontrar a verdade tinham sido perseverantes e o meu entusiasmo ardente e inextinguivel.
Não podia a minha Vereda bem-amada levar-me até ao cume da montanha, como sempre me prometeu?

terça-feira, março 14, 2006

3º Chamamento - Mundo


Será apenas o Mundo que é injusto contigo? Ou serás Tu também injusto com o Mundo?

Já foi alguma vez o Mundo injusto contigo?

E Tu?!?!

Quantas vezes já foste injusto com o Mundo?!

Quantas vezes já foste injusto com quem te rodeia?!

Quantas vezes já foste injusto contigo próprio?!

Quantas vezes ficaste Aquém da Tua Fé (Citra Fidem)?!

Quantas vezes foste A Sombra do Teu Olhar?!

quarta-feira, março 01, 2006

2º Chamamento - Corredor


Percorro os meus medos em espiral num poço sem luz, como se reconhecê-los fosse meio caminho andado para os enfrentar. Lá, bem no fundo desse poço, existe um corredor comprido de paredes amareladas e portas, muitas portas de um lado e doutro. Encostados à parede, bancos onde se sentam olhares. Pessoas? Não sei. Eu vejo olhares. Não distingo velhos, mulheres, crianças. Pressinto súplica, desespero, esperança. E dor. Quase palpável é a acusação daqueles olhos. Eu, espectador. Eles, actores. E a interrogação sobre o porquê de ser assim. Dirigida sei lá a que entidade que não ouve, que não responde. Passo por esses olhares, com vergonha e culpa. Sem encontrar também eu a explicação.Ali, no corredor escondido no fundo dos meus medos, enfrento as minhas orgulhosas certezas, as minhas arrogâncias, as minhas “máximas de vida”. E sinto que não valem nada. Aqueles olhares também já reflectiram certezas, vaidades, arrogâncias. Também já brilharam de esperança, de amor. E tudo isso se foi, deixando-os ali, seguindo as pessoas que passam, como se delas dependesse o regresso ao que foram. Cada pessoa que passa acende um “talvez” naqueles olhares. E esse talvez é o que me faz ver claro o corredor e reparar que a luz também entra nele.